quarta-feira, 31 de março de 2010

Nuvens de Chumbo

Mais uma noite passou
E ainda não conseguimos dormir
Falamos dos mesmos problemas
E há tempos falamos assim.
O céu fechou-se em chumbo,
Manhã cinza, tarde gris
Caminhamos na chuva intrépida e contínua
Como cães vagabundos a procura de comida.
A cidade amanheceu morta e pálida,
Uma cova rasa a cada marquise
Em frente à lápide de Dante Alighieri
Beijamos-nos e nos despedimos.
Na cidade natal somos estrangeiros,
Procurando aos miúdos um sopro de vida
Nossa tempestade de anseios e vertigens
É bem maior que essa sórdida brisa.
Lembrei dos tempos da inocência,
De quando a primavera era colorida,
Tão diferente deste velório coletivo.
Vamos brindar a morte do dia!
Vi uma lápide de vinte andares
Enfeitada com estátuas e ídolos disformes.
Quanta vaidade! Quanta mesquinharia!
Enfrente ao templo de Amon e Ísis
Vi sozinho o enterro do Sol
E quando os sinos tocaram pela décima vez
Adormeci no jardim dos antepassados.

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