quarta-feira, 31 de março de 2010

Sobre o Blog

Seja bem vindo

Este livro de uma página só não tem a intenção de mudar as coisas.
Nem explicá-las.
Sou um espião atento a tudo e a todos, interessado nas paixões da vida, e detalho em frases soltas os quadros que faço o logo dos dias.
O que pretendo é resumir em elos minhas experiências, meus amores, minhas liras.
As vezes acho que sou um palhaço, um lunático, um louco devaneio.
Sinto o peso do Sol, o gosto das cores e do vento.
As vezes me sinto vazio, e então me encho de você
E escrevo mil blafêmias sobre amor, ódio e perdão.

Três postagens novas, três vertigens, poemas livres de simetria ou regularidade.
As disformidades são mais interessantes!
Boa leitura.

Nuvens de Chumbo

Mais uma noite passou
E ainda não conseguimos dormir
Falamos dos mesmos problemas
E há tempos falamos assim.
O céu fechou-se em chumbo,
Manhã cinza, tarde gris
Caminhamos na chuva intrépida e contínua
Como cães vagabundos a procura de comida.
A cidade amanheceu morta e pálida,
Uma cova rasa a cada marquise
Em frente à lápide de Dante Alighieri
Beijamos-nos e nos despedimos.
Na cidade natal somos estrangeiros,
Procurando aos miúdos um sopro de vida
Nossa tempestade de anseios e vertigens
É bem maior que essa sórdida brisa.
Lembrei dos tempos da inocência,
De quando a primavera era colorida,
Tão diferente deste velório coletivo.
Vamos brindar a morte do dia!
Vi uma lápide de vinte andares
Enfeitada com estátuas e ídolos disformes.
Quanta vaidade! Quanta mesquinharia!
Enfrente ao templo de Amon e Ísis
Vi sozinho o enterro do Sol
E quando os sinos tocaram pela décima vez
Adormeci no jardim dos antepassados.

Tempo

Tempo, tempo, tão impetuoso, guarda para ti a resposta que quero, ao suplício dos segundos sem o aroma predileto. Lanço a ti mil blasfêmias, e descarrego todo meu peso a ti, velho sádico, pois sei que agora ri de minha paixão privada, e observa as frestas nosso desejo desenfreado.
Pois te desconjuro! e vos digo: Chegará a um de seus elos, mortal serpente, e enfiarei minha espada em sua pele e através de ti caminharemos, então andaremos pelo ar, sem pisar em suas escamas, e não mais poderás nos encontrar. Nem nos ver, pois cegar-te-ia todo nosso amor. Serás condenada a passar por toda paixão que há no mundo sem poder tocá-la. Pois nem tu, ó poderoso tempo, pode privar o amor de amar.

Libertina

Ao vento ela se lançou, e a sorte veio em um turbilhão de sonhos de outros lugares, Outras vidas, outros amores.
O Céu sela em chumbo a promessa pra si mesma que tudo irá mudar, que o horizonte irá buscar.
O refúgio solitário
O abrigo em um olhar
A certeza na despedida
O abismo em um salto.

Um mini-mundo de sonhos descobertos
A menina se revela mulher
Eva, Vênus, Perséfone, Ophelia!

Em lugar algum, mas de algum lugar
Poço dos desejos, mar da tranqüilidade
Anjo dos pecados, deusa da escuridão
Olhos de esmeralda, garras de rubi!

sexta-feira, 26 de março de 2010

Flores

Janelas e flores
Olhares se cruzam a todo instante
O Sol veio para nos mostras as cores
das flores que dormem nas ruas da cidade.
Quantas vidas?
Tantos amores!
Lavandas me envolvem com seus aromas,
Orquídeas emolduram pontos de ônibus,
Margaridas se abrem em breves sorrisos
Pétalas e poses, caules curvos e sedutores,
Espinhos de todas as cores
Jardim enteógeno das sensações.

Algumas amo, outras odeio
Mas a todas desejo
O caminho das flores é muito tentador...
Campos, parques, ruas e corredores,
Nos cantos das salas, nas sacadas
Meus amores,
Guardem-se a noite
e pela manhã irei beijá-las.
As borboletas escondem seus nomes
Mas ainda posso encontrá-las
nos quadros, nas esquinas, nas avenidas
Por toda parte
Sou um beija-flor indeciso
E por todos os jardins quero passar
Flores novas, rosas e seus espinhos,
Provem o meu lírio,
Brisa suave das manhãs tardias
Tragam o cheiro das cores
Damas da noite e pimentas de jardim,
Papoulas loucas, escondam-se
As trombetas anunciam
É o fim!

quinta-feira, 25 de março de 2010

Passeio Matinal

O sol aparece e aquece os corações da cidade
A neblina ainda paira nos quintais sonolentos
Bocas de lobo bocejam vapor quente
Roncam os motores nas ruas desertas
O sorrisos estouram como festim
E as tendas se abrem ao amanhecer
Jovens loucos, nus e quentes
No ritual mais antigo
Celebram a noite de um estranho Luar.
Exaustos, vagam calmamente.
Como cães na beira da estrada da vida
Só de passagem, sempre de saída
O horizonte tão calmo e vazio...
Bebi a seiva pela manhã sedenta
E sorri por três vezes ao mesmo pecado
E a serpente enfim envenenou a alma
Vi a cor púrpura do desejo em flores raras
E gozei a morte de Euclides por um tempo disforme, sonolento,
Desatento ao compasso das canções populares.
Eternamente jovens seremos,
Herdamos o mundo e perdemos.
Vamos sair e passear.

Dois

Enfim chega a aurora,
e com ela a divina maldade do ser.
O gosto é doce,
o cheiro é exótico,
A tarde é eterna,
A flor é púrpura!
Trai a todos menos a si mesma,
quando abre-se ao fechar dos olhos.
O céu é de baunilha!

a carne sente,
o coração ainda bate,
como se a qualquer minuto fosse parar,
a loucura invade,
a porta se abre,
os olhos cegam,
a carne trai,
a paixão condena!

Sim! somos nós mesmos,
já não basta provar o pecado,
é preciso devorá-lo,
a fome,
a carne,
a sede,
o suor,
o sangue!
O corpo estremesse, o prazer é sufocante,
a alma desencarna de tão leve, os olhares se entregam ao sono.
O sonho nos esquece, mas o cheiro não some,
o sentido recobra a vida, os lábios despertam outros,
o corpo pesa,
as mãos apertam,
os olhos se fecham,
as cores se confundem.
O Sol rasga a noite
E o amor ao fim cobra o preço justo.
Dois.